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A Segunda Ordem do Amor: A Hierarquia

Atualizado: 13 de set.

Outra lei fundamental atua na consciência coletiva: em toda família ou em todo grupo predomina uma ordem arcaica e hierárquica, que se orienta pelos antepassados ou pelos pósteros. Portanto, é determinada pelo tempo do pertencimento. Quem já foi membro da família tem preferência em relação aos que vêm depois. Assim, os que vêm primeiro estão em posição mais elevada, e os que vêm depois, em posição inferior. Desse modo, um avô tem precedência sobre seu neto, assim como os pais têm precedência sobre seus filhos, e o primogênito, sobre seu irmão mais novo, e assim por diante. Na consciência de clã, os pósteros e os antepassados não estão em pé de igualdade. Muitas dificuldades manifestadas por crianças, como um comportamento agressivo ou estranho e até mesmo algumas doenças, estão relacionadas ao fato de elas se encontrarem no lugar errado. Quando se acha o lugar certo para elas na constelação familiar, elas acabam mudando.

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Assim, cada membro da família tem o lugar que lhe cabe. Ninguém pode nem está autorizado a disputá-lo, por exemplo, querendo ultrapassá-lo ou suprimi-lo. Muitas vezes a hierarquia é violada em nossa cultura, pois é desconsiderada por muitos que evocam a liberdade pessoal e o direito de se desenvolverem segundo os próprios conceitos.


No entanto, para os que violam a hierarquia, as consequências são devastadoras. Por isso, quando há um comportamento autodestrutivo em uma família e alguém, perseguindo objetivos aparentemente nobres, encena seu fracasso e sua ruína de maneira deliberada, em geral o agente é um sucessor que, com seu fracasso, finalmente sente-se como que aliviado por honrar seu antecessor. Desse modo, o poder usurpado termina como impotência; o direito usurpado, como injustiça, e o destino usurpado tem um m trágico.

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A consciência coletiva não permite que os pósteros se intrometam nos assuntos de seus antepassados, mesmo que as intenções sejam as melhores. Como já descrito, há na alma dois movimentos que se opõem: a consciência pessoal e a coletiva. Por exemplo, quando um filho assume algo por seu pai, ele tem uma boa consciência pessoal. Sente que ama seu pai e que é inocente. Ao mesmo tempo, viola a hierarquia da consciência coletiva, pois esta é poderosa e pune a violação com o fracasso e a morte. Por isso, as grandes tragédias terminam com a morte daqueles que pensam estar fazendo o bem. Por isso, os pósteros não devem sentir-se compelidos a impor o direito dos antepassados no lugar deles, a expiar sua culpa nem a libertá-los posteriormente de um destino ruim. Quem vem depois nunca pode ajudar quem vem antes. Contudo, se isso acontecer, o póstero reage a essa usurpação sob a influência da consciência de clã com uma necessidade de fracasso e ruína.

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Em última instância, a punição para a violação da hierarquia é a pena de morte em sentido amplo, embora, na maioria das vezes, a hierarquia seja violada de maneira inconsciente ou por amor. Por exemplo, quando uma criança percebe interiormente que um dos pais se move no sentido da morte, ela diz em sua alma: “Antes eu do que você”. Isso pode ser enunciado da seguinte maneira:


“Antes eu adoecer do que você”.

“Antes eu morrer do que você.”

“Antes eu pagar por um crime do que você.”

“Antes eu carregar a culpa do que você.”

“Antes eu desaparecer do que você.”

“Antes eu me matar do que você.”


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Todavia, na hierarquia, a criança está abaixo dos pais. Se quiser assumir o destino deles, eleva-se acima deles, como se pudesse dispor da vida e da morte. Com essas frases interiores, a criança se coloca em primeiro lugar. Porém, não tem consciência disso, pois se eleva com um amor que está disposto a sacri car a própria vida pelos pais. No entanto, esse amor, que dentro das ordens do amor é uma usurpação, conduz a criança à morte, sem que ela consiga retirar seu destino dos outros.


Portanto, prevalece no clã uma ordem arcaica que aumenta a infelicidade e o sofrimento em vez de impedi-los, pois quando um descendente, pressionado por um senso cego de equilíbrio, quer recolocar em ordem um fato passado para alguém que veio antes dele, o mal não encontram. Essa ordem mantém sua força enquanto permanecer inconsciente. Porém, ao vir à luz, podemos cumpri-la de outra maneira e sem suas consequências ruins. É o que acontece na constelação familiar. Dou alguns exemplos à guisa de ilustração, inicialmente em relação às frases “sigo você” e “antes eu do que você”.

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Quando alguém diz interiormente esse tipo de frase, peço-lhe que a repita na constelação familiar diante da pessoa em questão, substituída por um representante. Ao olhar nos olhos dessa pessoa, o cliente já não consegue dizer as frases, pois reconhece que ela também o ama e rejeitaria tal oferta. O próximo passo seria ele lhe dizer: “Você é grande, e eu sou pequeno. Curvo-me diante do seu destino e tomo o meu, tal como me foi dado. Por favor, abençoe-me se eu car e deixá-la ir – com amor”. Desse modo, ele se une a essa pessoa em um amor muito mais profundo do que se a seguisse ou tomasse o destino dela para si como representante. A partir de então, a pessoa velará por ele com amor, em vez de ameaçar sua felicidade, como talvez ele tivesse temido.

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Ou quando alguém quer seguir um parente que morreu, por exemplo, uma criança que deseja seguir um irmão recém-falecido, pode dizer-lhe: “Você é meu irmão (ou minha irmã), respeito-o como meu irmão (ou minha irmã). Em meu coração, você sempre terá um lugar. Curvo-me diante do seu destino, seja ele qual for, e defendo meu destino, tal como me foi determinado”. Em vez de os vivos se dirigirem aos mortos, são os mortos que vão até os vivos e velam por eles com amor.

Ou quando uma criança se sente culpada por viver, enquanto seu irmão morreu, ela pode dizer-lhe: “Querido irmão, querida irmã, você se foi, eu ainda vou viver por um tempo, depois também morrerei”. Desse modo, a usurpação em relação ao morto cessa, e justamente por isso a criança que sobreviveu pode viver sem se sentir culpada.

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Apenas dentro de sistemas fechados a lei da hierarquia é oposta. Nesse caso, quem vem depois tem preferência em relação a quem vem antes. Por conseguinte, isso vale para família do presente em relação à família de origem, e para a nova família, por exemplo, devido ao segundo casamento da primeira família, mas apenas quando houver pelo menos um lho. Nesse caso, apenas a hierarquia no nascimento dos lhos é mantida. Exemplo: pela hierarquia, o primeiro e o segundo lho da primeira família vêm antes dos lhos da segunda família. Portanto, o primogênito daquela vai para o terceiro lugar, e os outros lhos, respectivamente, para os lugares sucessivos.

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A violação de uma hierarquia se revela na constelação familiar. Ao se constelar, a ordem é restaurada e, assim, obtém-se o pré-requisito espiritual para o sucesso na vida. No entanto, é o próprio cliente quem tem de implementar essa ordem, pois a constelação não substitui a própria ação.



BERT HELLINGER - MEU TRABALHO. MINHA VIDA. Ed. Cultrix


Hellinger, Bert, 1925-2019 Bert Hellinger : Meu trabalho. Minha vida. A autobiografia do criador da Constelação Familiar / com Hanne-Lore Heilmann ; tradução Karina Jannini. -- São Paulo : Cultrix, 2020

 
 
 

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